Locadoras de veículos projetam crescimento para 2022, mas pressão de custos persiste

Locadoras de veículos projetam crescimento para 2022, mas pressão de custos persiste

19/03/2022 Off Por Sam

São Paulo, 08/03/2022 – O setor de locação de veículos espera crescimento da receita em 2022 principalmente devido ao aumento das tarifas, em um contexto de demanda aquecida e reajuste de preços em contratos de longo prazo. No entanto, as locadoras continuam amargando aumentos de custos com manutenção e peças, em um horizonte ainda incerto de restabelecimento da oferta de carros na indústria automotiva.

De acordo com o presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Marco Aurélio Nazaré, a busca por eficiência de custos junto a fornecedores tem limite. “O custo de manutenção é crescente pela alta dos preços dos componentes e também pela idade média da frota, que aumentou muito”, afirmou em entrevista ao Broadcast.

A idade média da frota de locação saltou de 14,9 meses em 2019, nível pré-pandemia, para 27,4 meses neste ano, segundo a ABLA. A estimativa considera tanto o segmento de rent a car (aluguel de diárias, ou RAC) quanto o de gestão e terceirização de frotas (GTF).

Isso acontece porque, desde o início da pandemia, as empresas vêm sofrendo com restrições de oferta pelas montadoras, que enfrentam uma conjuntura de falta de componentes na cadeia produtiva, especialmente semicondutores. “Custo de manutenção é um componente expressivo na locação”, observou Nazaré.

Por outro lado, ele acrescentou que as locadoras vêm conseguindo boas margens na venda de seminovos – cujos preços estão nas alturas acompanhando a alta dos carros zero km – e também no rent a car. “As empresas que atuam no RAC conseguiram repassar o aumento de custos. Agora a tendência é de retorno a uma certa normalidade das margens no segmento.”

Já no GTF, o dirigente destacou que muitos contratos que foram fechados antes da pandemia devem ser renovados com preços mais altos para compensar os aumentos de custos. “Contratos de 2019 que vão ser renovados agora terão aumentos superiores a 25%, chegando a 40% em alguns casos, dependendo do modelo e do período em que foram fechados.”

Em 2021, o setor de locação registrou faturamento líquido de R$ 20,6 bilhões, ante R$ 15,3 bilhões em 2020. No ano passado, foram registrados 50,1 milhões de usuários de aluguel de carros, um crescimento de 12,3% sobre 2020.

Para este ano, a entidade evita cravar uma projeção de crescimento, estimando um avanço de “dois dígitos”, sem abrir, entretanto, uma faixa aproximada.

Oferta

Para a ABLA, a oferta de veículos deve começar a se normalizar a partir do segundo semestre deste ano, trazendo um fôlego para o setor de locação. Apesar disso, a entidade estima que o nível de compras das locadoras, em 2022, deve ficar mais em linha com o ano passado, quando o setor adquiriu 441 mil unidades.

Segundo o conselheiro gestor da ABLA, Paulo Miguel Junior, para equilibrar a oferta de maneira satisfatória, o setor de locação precisaria comprar aproximadamente 600 mil veículos.

Marco Aurélio Nazaré afirmou ainda que as locadoras terão que repor frota com modelos de maior valor agregado, o que aumenta o tíquete médio. De acordo com a entidade, os SUVs vêm ganhando cada vez mais participação nas compras das empresas, em detrimento dos modelos de entrada e hatchs.

Com a expectativa de estabilização da oferta pelas montadoras, as fortes margens registradas na venda de seminovos tendem a cair. “À medida que a oferta de veículos novos voltar à normalidade, os seminovos passam a perder força”, afirmou o diretor da Bright Consulting, consultoria especializada no setor automotivo, Murilo Briganti.

Ele ponderou que apesar do início do processo de normalização da oferta de veículos na indústria, com estoques voltando a crescer, há no atual cenário um elemento novo: a guerra na Ucrânia. “Podemos até não sofrer com escassez imediata de componentes, mas os custos das commodities já começam a registrar altas”, observou.

Nem a redução da alíquota do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) deve gerar um impacto tão significativo nos custos das locadoras. “A redução de 18,5% do IPI, na média, não traz impacto positivo na venda de veículos. Só o aumento de preços praticado pelas montadoras na virada do mês teve a mesma proporção da redução do IPI”, disse Nazaré.

De acordo com Briganti, em termos reais o preço médio do automóvel na passagem de dezembro de 2021 para janeiro deste ano subiu 4%, alcançando cerca de R$ 130 mil. “Em 2018, o preço médio do carro novo era de R$ 87 mil”, comparou.

Para o presidente do conselho da ABLA, as montadoras estão no limite do aumento de preços dos carros. “Agora, com o aperto da renda, a parcela do automóvel não se encaixa mais no orçamento das famílias, muitos vão partir para o aluguel, até de forma compartilhada”, disse.

Fonte: broadcast.com.br